Pois outro ano mais por diante e outro ano mais que seguimos sem ter eleições na China. Além desta piada sobre a ditadura chinesa, neste 2019 temos três eixos fundamentais que marcaram o trunfo e o sucesso das tendências autocráticas sobre as que levamos girando com força desde a crise financeira mundial de 2008 e bem antes com o renascimento da Rússia como potencia militar em 2000 e já na fim com a China como primeira potencia económica mundial confirmada neste 2018.
O primeiro dos eixos no que temos que fixar a nossa olhada será a UE, que defronta para Maio de 2019 umas eleições ao Parlamento europeu que desafiam a sua própria continuidade como projeto político e como modelo de estado social e de paz e seguridade dentro de um marco internacional mais e mais intestável. A propulsão de partidos claramente eurófobos, já com poder real por exemplo na Itália do Salvini, deita uma nova instabilidade numa UE ferida pelo Brexit e por uma ultra-direita que toma a UE como objetivo a derrubar dentro do seu discurso anti-globalização.
As eleições europeias de 2019, as primeiras da era Brexit, podem deixar uma UE muito mais fraca no político e virando cara uma forma efervescente de dissolução da mesma. O mundo multi-polar dos Putin e dos Xi aspira a uma UE em queda dos seus princípios e valores, uma UE fraca e sem opção a fazer contrabalanço à influência russa na Europa física.
No segundo dos eixos e não menos importantes, temos à primeira democracia por tamanho do mundo que também nesse mesmo mês de maio de 2019 celebra eleições gerais. Embora, a Índia não unicamente escolhera aos 543 membros do seu parlamento. O destino do futuro da Índia dentro da cena mundial vai ligado a estas eleições, num marco onde o poder mundial joga o seu futuro na Ásia, Europa e Oriente Médio, o até agora parceiro estratégico dos EUA para conter à China e a Índia pode virar o seu papel no sul da Ásia e na economia mundial. É por isto que a aliança com os EUA está hoje em dia seguindo o caminho da diplomacia e da política exterior do trumpismo, entrando por isto novamente a Índia no campo russo e chinês. As tensões no mar do sul da China levam a que a Índia também pela sua banda redefina as suas alianças estratégicas tornando Nova Delhi num espaço de maior neutralidade como contrabalanço ao poder de Pequim no que respeita aos interesses dos EUA.
A Índia emerge com agenda internacional própria como uma superpotência num mundo multipolar. Inversões multimilionárias no Irã, como o Porto de Chabahar, na soft-diplomacia e compras por mais de 5.000 milhões de dólares americanos de armamento a Rússia junto a um novo entendimento nuclear, na hard-diplomacia e como apoio à sua «difícil» política de fronteiras.
O terceiro dos eixos para 2019 está no continente sul-americano: Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai estão convocados a eleições e podem seguir a sequencia que seguiu-se no Brasil em 2018 com a eleição do Bolsonaro. Na Bolívia, o maior importador de gás natural do continente, as eleições podem marcar a fim do ciclo de Evo Morales e na Argentina o situação de nova quebra do estado durante o macrismo anota para um cambio de rumo político.
Uma América do Sul pendente do reparto mundial do poder e das riquezas naturais, onde a China já tem tomada posição preferente tanto na África como na América do Sul. O controlo chinês das riquezas naturais de ambos continentes marca também a agenda política no hemisfério sul, já hoje em dia, praticamente sob a diplomacia chinesa do intercàmbio de infraestruturas públicas corruptas por matérias primas.
No cabo, 2019 é o ano onde o mundo finalmente olhará a emergência do eixo Pequim – Terão – Moscovo como uma realidade observável para a opinião pública geral, com a Turquia do Erdogan a somar esforços por enganchar nesse triunvirato mundial, onde trabalharão duramente para uma nova recomposição dos equilíbrios de poder no oriente médio, nomeadamente na Síria. As eleições em Israel tampouco deveríamos deixar passar já que marcam um fito numa das zonas com maior instabilidade política do mundo. A esta visibilidade do novo núcleo de poder mundial ajudará em muito a paralisação do governo Trump e o «shutdown» provocado nos pressupostos neste último mês de 2018.
Ainda que seguimos a viver na época com maior esperança de vida e maiores indicadores a nível mundial de qualidade de vida, a concentração de riqueza e a falta de redistribuição da mesma segue a ser um problema e um dos novos reptos para a terceira década do século XXI onde milhões de empregos industriais e nos serviços serão substituídos de cada vez mais por robôs e onde o modelo de bem-estar entendido como sociedades de pleno emprego não vai fazer mais sentido