O 25 de Abril não foi senão uma grande corrente subsariana que chegou a Portugal. Desde as terras para além do grande deserto do mundo, desde as nações das baobás, chegaram as forças e as ideias do cambio, nos navios vindos da África é que vinham as ideias que logo transformariam Portugal para sempre. Porque no 25 de Abril não foi unicamente Portugal a libertar-se. Também foram a Angola, Cabo Verde, Moçambique e a Guiné. Esta é uma ideia deixada a um lado as mais das vezes, não sei se por eurocentrismo ou pelo panorama de guerra civil que seguiu ao processo de descolonização na maior parte da África subsariana, mas é uma ideia pouco decorrente no belo relato que sempre fazemos do 25 de Abril de 1974 e dos meses a seguir.
Os longos e cinzentos anos das guerras coloniais tinham quebrados a fazenda do país e tinham quebrados também a uns portugueses exaustos de andar a lutar contra inimigos invisíveis. O mantimento do Império foi a derradeira das fatalidades de um salazarismo que já correra de ser filo-fascista e alinhar-se com as potencias do eixo durante a II Guerra Mundial a fazer do travestismo uma virtude e serem aliado do bloco ocidental durante o longo período da guerra fria. Mas o Portugal fundado numa visão tradicionalista, fundamentalista católica era batido à porta pelos ventos chegados desde o mato africano que tantas vidas deixara mortas no inútil.
Ainda e tudo, o movimento de descolonização que mexia o mundo inteiro após a II Guerra Mundial afetaria por vez primeira com a libertação de Goa em 1961 ao Império português. Neste momento começou uma corrida para a frente onde o mantimento das colónias portuguesas no mundo tornou na política prioritária para o regime salazarista. Uma corrida para a frente que levaria à queda financeira total do Estado Novo e possibilitaria finalmente o avanço das liberdades e da democracia num Portugal que sofrera uma das ditaduras mais longas vividas no século XX por nenhum pais europeu.
O 25 de Abril é algo mais que o bater na porta da democracia em Portugal continental; é o canto de libertação de todo um Portugal africano que com maior ou menor acerto, tentava erguer a sua própria historia para alem da de ser o espaço de ultramar de uma metrópole que ficou desgastada de tanto tentar guarda-la numa caixinha de sapatos debaixo da cama.