Na época do Império dos romanos estes decidiram proteger a sua civilização com a construção de um muro. Os «limes» dos romanos separavam o mundo da civilização romana do mundo dos bárbaros (que já estamos a saber que não eram tão bárbaros) e das suas invasões. Nascido no entorno do «vale» da ribeira do Mediterràneo, e o canal interno natural que é o estreito de Gibraltar, o espaço mediterràneo forneceu de trigo como alimento básico para esta civilização que dominou o mundo ocidental e da que em boa parte somos herdeiros.
Também várias dinastias nascidas no entorno dos vales dos rios Wei e Han, Huang He (Rio Amarelo) e Yangtsé conformaram, principalmente ao norte destes rios uma grande muralha para defender das tribos nómadas que desde a zona dos desertos e das estepes de Manchúria e Mongólia invadiam a uma grande civilização agrícola baseada no cultivo do arroz. A construção de um canal que uniu estes rios foi uma das principais causas de unir-se e conformar-se uma China continental.
Onde não existiam esses muros, a própria natureza queria impor os seus. Grandes desertos, grandes montanhas e grandes oceanos sempre foram elementos de distanciamento entre civilizações. Mas inclusive, até estas grandes paredes foram caindo ao tempo que a humanidade avançava tecnologicamente no conhecimento da navegação e em avanços nos médios de transporte.
O mundo da cristianismo rematava na fim dos oceanos, onde numa grande queda de agua rematava o mundo conhecido. Os Impérios marítimos europeus atravessaram os oceanos. O Império Persa atravessou desertos e chegou até os vales do Indo e do Ganges unindo o Médio Oriente com o Extremo Oriente. Os Maias assentaram na base do cultivo do milho. Os Incas atravessaram a selva tropical e conquistaram os Andes. Os Russos foram até a tundra. Os turcos-otomanos atravessaram o Cáucaso e os desertos da Ásia Central até chegar as mesmas portas da China.
Na era do nascimento dos EUA, estes não tiveram que construir nenhuma muralha. Nasciam coma uma ilha continental, com a inóspita e gélida Canada no norte e os oceanos Atlàntico e Pacífico a distancia-los do resto do mundo. Os vales dos rios Missouri e do Mississippi foram centrais para a construção desta nova potencia continental e o mar das Caraíbas funcionou como o seu próprio mar Mediterràneo. Juntou-se deste modo uma civilização com grande presença marítima e terrestre. A construção do canal do Panamá significou a unificação continental. Mas hoje em dia, já não são essa antiga ilha continental que eram desde o século XVIII. As fronteiras da atual potencia mundial, comprimem mais e mais, sendo mais pequenas de cada vez com o avanço das comunidades mexicanas e centro-americanas pelas ribeiras do rio Bravo e do rio Colorado.
Na história mais recente, temos o exemplo da Cortina de Ferro que partiu Europa em dois durante grande parte do século XX separando dois modelos políticos e económicos. Separou também, uma URSS que desenhou um império eurasiático, de uma Europa que na altura voltou atlàntica e unida aos EUA.
Porem, mais tardar os muros feitos pelos homens ou pela natureza, rematam a cair. O caso é que sempre há quem ache que devemos voltar a erguer esses muros e que a sua queda é algo reversível. Sempre há quem quer viver dentro da sua muralha esquecendo o que existe do outro lado.
Os muros representam os medos da humanidade, e tem que ser a humanidade quem evite estes muros. Cada um destes muros é reflexo do medo, e cada um destes medos; ao estrangeiro, ao bárbaro, ao diferente, à diversidade; foi a fim de cada uma destas civilizações. O medo rematou por dirigir o poder político interno, rematando em tremendas tiranias muitas destas civilizações, o medo destinou os recursos económicos aos lugares errados, provocando o colapso da sociedade e finalmente a inevitável queda do muro.