Numa das salas do prédio das Nações Unidas de New York há um mosaico que leva o nome de «The Golden Rule». Nele estão desenhados uma série de seres humanos identificáveis, étnica e culturalmente, com diversas religiões do nosso planeta e ao pé o texto em inglês: «do into others as you would have them do unto you»
Se bem, hoje as Nações Unidas formam parte de um protocolo das relações internacionais que podemos já dar por fechado. A sua incidência real na governança mundial torna de cada vez mais relativa, já que o seu poder real é certamente inexistente na hora de resolver conflitos. Unicamente funciona já como um bálsamo para as feridas dos homens sobre os homens, uma qualquer coisa demasiado próxima e similar unicamente a uma organização de ajuda humanitária.
O sistema internacional no que nasceram as Nações Unidas hoje não tem nada a ver. O controlo da ameaça nuclear fica por momentos para a diplomacia do tweeter, que tanto gosta ao Donald Trump, mais não parece ser uma realidade plausível em nenhuma das hipóteses do cenário internacional. Os atores fundamentais do esquema de poder e sanções efetivas ficaram ancorados num mundo que surgiu do acordo Bretton-Woods, já longe da realidade de um mundo atual, que viveu na última metade do século XX um longo processo de descolonização, a queda do bloco soviético e a emergência de novas economias com aspirações globais.
Do espírito da «Shoah» e de Hirosima e Nagasaki nasceu uma consciência quase global para defrontar os reptos da humanidade. No mundo atual olhamos como muitos dos fatores que levaram a aquele fracasso comum que foi a II Guerra Mundial estão a invadir novamente as nossas sociedades. Temos, assim por diante, uma volta a conceitos como o anti-semitismo, a islamofobia ou o supremacismo branco que voltam com força em grande parte parte das sociedades democráticas avançadas. A xenofobia e o racismo invadem novamente o espaço político das nossas sociedades. Além disto, há uma luta entre uma involução teocrática e os ideais liberais sobre os que representam as democracias ocidentais. Uma luta, na mais das vezes, na defesa de sociedades baseadas nos direitos humanos frente outras intolerantes, machistas, racistas e profundamente desiguais que representam uma volta a valores e princípios próprios de sociedades feudais.
Existem paralelismos que podemos olhar na auge dos totalitarismos que viveram os anos de 1920`s e o caminho que levou ao mundo às sombras e às cinzas. Travar o seu avanço e defender os modelos de democracias poliarquicas e multi-étnicas nas que vivemos, torna eixo fundamental para uma agenda 2030 das Nações Unidas cheia de incógnitas e ambiguidades.
O perigoso caminho do neo-tradicionalismo vencendo à pós-modernidade, o avanço do espaço da crença frente à ciência, pode estar a levar ao mundo num caminho de involução, que politicamente tem seu reflexo na transferência de um discurso e umas políticas que afastam do humanismo e da defesa dos direitos humanos que marcaram uma grande parte do avanço e do progresso social em grande parte do mundo.