A divisão entre esquerda e direitas, fica cada ano, mais e mais indiferente, para separar o grão da palha. Nesta altura do mundo, a direita é algo onde existe uma entre-mescla de neo-tradicionalistas, anti-globalização e anti-Europa. O mesmo na esquerda, onde há um forte pouso de anti-europeísmo e anti-globalização que deixa a um lado, o que fora no seu tempo, um dos sinais identificadores dos movimentos chamados da esquerda: o internacionalismo e o seu cosmopolitismo.
Como pode qualquer um, definir o seu discurso, marcar uns objetivos, dizendo-se de esquerdas ou de direitas? Quê fez a diferencia? A esquerda que apoia ao Putin, ou a direita que também apoia ao Putin?
Uma coisa, no final, é o discurso, e outra bem diferente é a postura para cada caso. Em década dos `70 do século passado, nos EUA, um dos teóricos da direita, Murray. N. Rothbard, rematou por posicionar-se claramente em contra da Guerra do Vietname, sendo situado desde então, por muitos, com os seus aliados políticos naquele momento anti-belicista: a gente da nova esquerda norte-americana.
Hoje em dia, mais do que esquerda ou direita, a nossa escolha já é entre uma visão do mundo democrática, liberal e cosmopolita e uma outra visão autoritária, iliberal e fechada. O antigo «cleavage» esquerda-direita, feito em clave marxista; como um construto definitório da política; entre a diferencia, entre burguês e proletariado; não dá hoje para definir nenhum sujeito político concreto, mais sim um cúmulo de inconcretas e indefinidas posições políticas.
O transversalismo de muitos, levou a este fenómeno. De transversal que são, não são mas do que ultras, fixados em camisetas com «slogans» ou em discursos todo-caminho. Um transversalimo nos médios de massas para não zangar a ninguém que viva na propaganda; e um transversalismo que torna em defesa do dogma, para animar aos seus que vivem no gesto e na escenificação.
E chegamos a esse ponto, onde voltamos a estar a lutar os criacionistas contra dos copernicanos. Efetivamente, ainda há quem acredita que a Terra é plana e que é o Sol a girar arredor da Terra. Embora, parece que já abandonamos o chamado «Fim da Historia» do Fukuyama, e achegamos a um momento onde parece a caminhar de novo a historia, com um giro de 180º, cara um mundo onde as democracias ocidentais estão a viver no fio da navalha.
A involução cara um mundo autocrático, é de facto, um caminho que muita gente deseja para as suas sociedades. O modelo das democracias parlamentares liberais, está em crise, e desde vários pontos está a rachar o consenso existente sobre as mesmas.
Há hoje um ano que comecei a colaborar com o «Adiante Galicia», e titulava o artigo com um «Cuidado com o que você deseja«, nele falava desta nova moda de desejar a fim das democracias parlamentares e o começo de uma nova ordem internacional baseada na conexão autocrática China-Russia-Irão.
E ontem no parlamento da Galiza, chegávamos ao mais gráfico momento desta volta cara a adoração ideológica; afastando-se da realidade; e chegando ao autoritarismo, com a votação sobre uma resolução sobre a situação em Venezuela. Eu, têm que desculpar, não acho sentido aos votos na contra da mesma, sem uma desculpa que resulte afastada em muito do respeito ao direitos humanos e da defesa, que é no final no que andamos a falar, do modelo de democracia representativa liberal no que vivemos.