Deve ser a indigestão do almoço estilo mexicano de hoje ou vai tu a saber o quê, mas estava eu a cavilar que trabalho; de uma maneira, bem doutra; em duas das coisas; das três; das que mais fala a gente, sem precisar de informar-se, estudar ou se quer ter um mínimo conhecimento. Fora ficam conversações de ascensor por suposto; neste campo todos somos fabulosos experientes no cambio climático e na duração dos dias.
O caso é que sou, mal que bem, quando menos, um bocado afeiçoado, nessas duas coisas das que mais falamos: seguros e política. A terceira, a de adestrador ou selecionador da equipa de desporto favorita, nessa já sou unicamente um observador. E digo afeiçoado, já que dizer hoje que és um experto, leva por diante quase toda credibilidade. Dizer-se um experto está já no politicamente incorreto. Onde ficaram os expertos que não adiantaram a grande crise financeira em 2008? onde estavam esses mesmos expertos que não souberam antecipar o trunfo das autocracias?
Isto levou a viver num mundo onde a opinião de todos, de qualquer um, sobre qualquer tema, é finalmente tão valida como a de qualquer experto. Na hipótese contraria você será chamado de «elitista» e inclusive de «autoritário». Damos o passo a um mundo onde o que é medível é irrelevante, ponha uma boa opinião ou alguma boa proclama, e a realidade ficará asfixiada.
O governo da opinião pública é dos leigos. O governo dos assuntos públicos é dos leigos. Logo olhamos com estranhamento para o que se está a acontecer. A política e a área pública, é, nesta volta, para aqueles que são mais «lealistas» e menos «especialistas». Nestas, aquilo que chamam a nova política, vive de lealdades e não de especialidades. O efeito Dunning-Kruger e a ração da maioria invade qualquer debate, que rapidamente deixa de ser serio.
E é que não estão os tempos para descrer da ração da maioria!!
Estão muitos a ficar chateados? E se digo que todas as opiniões são respeitáveis, mas não todas andam no certo!! Podem virar a chatear mais todavia? Por diante de tamanha e enorme quantidade de «replicantes», há já tempo que nasceu uma lei, chamada Lei de Goldwin.
Eu normalmente aplico esta lei a duas palavras indicadoras claramente de que uma conversa, na aplicação geral da norma, deu por finalizada: «fascista» e «demagogo», nas suas variantes todas. A lei fala doutros termos, mas estes são agora os claros indicadores do ponto e final a qualquer debate. Se ouvir discorrer uma conversa até o ponto de ser usadas estas palavras, é que; não tenha medo nenhum a fazê-lo; a conversa chegou a um ponto morto; onde qualquer realidade é alagada pela ideologia.
Aparecem os «egos» e desaparece qualquer fragmento de ração. Aquilo de que o medível não é opinável, desaparecer-há, e andaremos, assim por diante, por um mundo com uma democracia doente e maníaca: uma democracia de psicanálise e carregada de «ególatras» e irreverente para com as minorias. Uma democracia que esfarelarão e transformarão em qualquer autocracia ou tirania.